Poster (Painel)
F.170 | ANIMACIDADE NA DERIVAÇÃO LINGUÍSTICA: UM ESTUDO DE ERP | Autores: | Aleria Cavalcante Lage (UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora) ; Aline da Rocha Gesualdi (CEFET/RJ - Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow Fonseca) ; Aniela Improta França (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro) |
Resumo Chomsky (1995, 1999) assume que o curso da derivação sintática é bottom-up. Primeiro ocorreria a concatenação (merge) do verbo com o seu complemento, e depois a concatenação deste composto verbo-complemento (v’) com o sujeito. Em português, a derivação não seguiria portanto a ordem canônica dos constituintes da frase, que é sujeito-verbo-objeto.
Um dos experimentos com extração de ERP de Lage (2005) tratou do curso da derivação sintática com manipulação da propriedade de animacidade do nome com função gramatical de sujeito. Os resultados apontaram para a confirmação da hipótese bottom-up, que testamos desta vez considerando o trigger no verbo e uma janela temporal de 2000 ms a contar da palavra-alvo, novamente manipulando a congruência semântica do sujeito através do seu traço intrínsico de gênero [±animado].
Assim, investigamos da computação do verbo até a interpretação da frase como um todo, em português do Brasil, com sujeito congruente, como (1) O menino chutou a bola, e com sujeito incongruente como (2)?A cadeira chutou a bola.
Metodologia
Recrutamos 29 graduandos da UFRJ (15 homens). Durante a apresentação dos estímulos, os sinais eletrocorticais dos sujeitos eram adquiridos por meio de um programa computacional especial, desenvolvido no Matlab – do MathWorks, Inc. Utilizamos 40 frases como (1) e 40 como (2). A tarefa do sujeito era julgar a plausibilidade semântica das frases, pressionando um determinado botão de um joystick.
Cada palavra aparecia na tela do monitor do sujeito por 200 ms. O trigger era sempre no verbo; e a janela temporal, de 2000 ms, isto é, processamos os sinais adquiridos durante 2000 ms desde a deflagração do trigger.
Durante a estimulação linguística, o programa de apresentação de estímulos (Presentation – do Neurobehavioral Systems, Inc.) mandava pulsos (ondas irregulares criadas por computador) para o programa de aquisição de sinais, informando o instante exato da apresentação de cada palavra. Após o processamento de sinais, para a extração de ERP, o tratamento estatístico foi através da aplicação do Running t-Test no sinal diferencial em cada instante no tempo nos traçados de EEG e considerando todos os sujeitos.
Conclusão
A tentativa de integração semântica do sujeito incongruente, logo após a sua concatenação ao composto verbo-complemento, parece ter gerado um esforço cognitivo maior, marcado por um efeito eletrocortical mais intenso, em forma de ERP de amplitude acentuada. E este ERP surgiu depois do ERP (N400) correspondente à concatenação verbo-objeto. A hipótese bottom-up do curso da derivação sintática parece ser portanto bem apropriada.
A propriedade de animacidade do nome que é sujeito deve ser acessada não somente na computação do nome (acesso lexical), mas também na computação do verbo, que precisa checar o nome semanticamente por ocasião da Concordância, e na integração semântica do sujeito ao composto verbo-complemento. Isto significaria dizer que um micromódulo lidaria com propriedades conceptuais, como a de animacidade, [±animado], e o outro com traços formais, o de gênero [±masculino] e o de número [±plural]. E estes conteúdos seriam portanto acessados em diferentes momentos da derivação sintática.
Parece que haveria portanto micromódulos no módulo de Concordância na cognição de linguagem, corroborando a tendência em Neuriociência da Linguagem de se verificarem computações linguísticas cada vez mais granularmente. Palavras-chave: ANIMACIDADE, COMPUTAÇÃO DE LINGUAGEM, CURSO DO PROCESSAMENTO, ERP, NEUROFISIOLOGIA DA LINGUAGEM |