Resumo

Objetivo: Investigar se o desempenho de estudantes universitários, em testes de memória operacional e episódica, varia em função do horário e do intervalo de tempo em que são realizados o treino e os testes de evocação. Métodos: Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FCM/UNICAMP e contou com a participação de alunos do 1º e 2º ano de cursos de graduação da Universidade Estadual de Campinas. Este estudo foi realizado em duas fases: Fase 1 - A versão brasileira do questionário de Horne-Östberg (Prog Clin Biol Res. 341B: 89, 1990) foi utilizada para classificar os alunos quanto aos cronotipos: matutino, intermediário e vespertino. Fase 2 - Os alunos classificados como cronotipo intermediário, falantes nativos de Português, sem histórico de distúrbios do sono ou uso de drogas psicoativas foram convidados a compor à amostra desta segunda fase. Os estudantes foram distribuídos em quatro grupos de acordo com os horários de realização das sessões de treino/teste imediato e teste tardio: Grupo MN – treinado de manhã e testado à noite, após 12horas; Grupo MM – treinado de manhã e testado de manhã, após 24 horas; Grupo NM – treinado à noite e testado de manhã, após 12horas; Grupo NN – treinado à noite e testado à noite, após 24 horas. Para avaliação da memória operacional e episódica foram utilizados: Teste de Aprendizagem Auditivo Verbal de Rey (TAAVR), Teste de Memória Lógica (TML), Digit Span e Blocos de Corsi em suas versões direta e indireta. O ciclo sono-vigília foi avaliado por preenchimento do Diário de Sono, uso de termistor e actimetria. Questionários específicos foram utilizados para avaliação da percepção de estresse, ansiedade e estado de humor. Os dados foram analisados por Análise de Covariância (ANCOVA), ANOVA para medidas repetidas e teste de correlação de Spearman, sendo adotado nível de 5% de significância estatística. Resultados: Fase 1 - Dos 396 estudantes avaliados, 234 alunos (59%) foram classificados como cronotipo intermediário e apenas 73 (18%) foram convidados a participar da segunda fase do estudo. Fase 2 – Foram avaliados 43 estudantes, de ambos os sexos, com media de idade de 20,12±2,18 anos. Os grupos não diferem quanto à idade, índice de estresse percebido e características de traço e estado de ansiedade. Os escores do TAAVR e TML apresentam variação significativa ao longo dos diferentes momentos de avaliação: imediato, após 30 minutos e tardio; no entanto, não foi observado efeito estatisticamente significativo (ANOVA; p>0,05) do horário ou do intervalo em que foram realizados as sessões de treino/teste imediato e o teste tardio. Os escores do teste imediato e do teste tardio do Digit Span e Blocos de Corsi apresentam diferenças significativas (ANCOVA; p<0,05), não sendo observado efeito estatisticamente significativo do horário ou do intervalo em que as sessões foram realizadas. Os escores médios obtidos no teste após 30 minutos (p=0,02) e no teste tardio (p=0,04) do TAAVR correlacionaram-se positivamente com a media de duração do sono global. A média de duração do sono pré-treino apresentou correlação positiva com o escore médio do teste tardio do TML (p=0,04). Conclusão: Os dados indicam uma variação no desempenho em testes de memória e sugerem uma relação entre o desempenho e a média da duração do sono dos estudantes.