Resumo

Objetivos: Analisar a organização do córtex visual primário em camundongos Suíços albinos fêmeas com privação monocular e verificar o papel do ambiente enriquecido sobre a acuidade visual e a memória espacial nesse modelo murino. Material e métodos: camundongos monoculares e binoculares, foram criados em ambiente enriquecido (AE) ou em ambiente padrão (AP). Aos três meses de vida aplicou-se testes comportamentais de campo aberto, acuidade visual de escolha forçada, memória espacial e acuidade visual no labirinto em cruz em ambiente aquático, com padrões de mesma luminância. Todos os animais foram perfundidos e seus encéfalos processados para histoquímica com a lectina Wisteria floribunda biotinilada para revelação das redes perineuronais. O número das redes perineuronais da camada 4 do córtex visual primário da região de representação do campo visual contra-lateral ao olho privado foi estimado pelo fracionador óptico. Resultados: Animais AP não aprenderam a localizar a plataforma pelo menos até o 6º dia de teste enquanto que os AE aprenderam a partir do 3º dia. No teste comportamental de campo aberto aplicado aos mesmos grupos, observou-se que os animais em AP percorreram distância significativamente maior do que os em AE. A acuidade visual nos animais monoculares foi em média 0,37 ± 0,05 ciclos/grau (média ± e.p.) e de 0,70 ± 0,05 c/g (média ± e.p.) nos animais binoculares. O número estimado de redes perineuronais nos binoculares em AE é significativamente maior do que as do mesmo hemisfério dos outros grupos (p<0,01). Conclusão: os animais AE aprendem e lembram da posição da plataforma no 3º dia de teste sugerindo que o ambiente enriquecido é um fator determinante na aquisição e retenção de memória espacial. Uma vez que a integridade das redes perineuronais parece essencial para a fisiologia sináptica e a monocularidade altera o número de redes perineuronais da camada IV é razoável supor que pelo menos em parte a redução da acuidade visual esteja associada à alteração da matriz extra-celular.