Resumo

A administração central de insulina inibe a ingestão de alimentos. Em nosso laboratório, demonstramos que o enriquecimento da dieta com gordura vegetal hidrogenada rica em ácidos graxos trans prejudicou a hipofagia induzida pela insulina e a sua sinalização no hipotálamo. No presente estudo, avaliamos se a dieta hiperlipídica enriquecida com ácidos graxos saturados afeta a ação anorexígena central da insulina no hipotálamo de ratos. Ratos Wistar foram alimentados ad libitum com dieta controle (C, 15% de calorias provenientes de lipídios) ou hiperlipídica enriquecida com banha de porco (B, 40% de calorias provenientes de lipídios) dos 2 aos 4 meses de idade. Massa corporal e ingestão alimentar foram mensuradas semanalmente. Ao final do período experimental, os depósitos de gordura retroperitoneal, epididimal e mesentérico foram pesados, a glicemia de jejum foi avaliada por kit comercial e a insulinemia de jejum por radioimunoensaio. A ingestão alimentar após injeção intracerebroventicular de insulina (20 mU) ou salina foi medida após 12 e 24 h. O teor hipotalâmico das proteínas IR, IRS-1, IRS-2 e Akt foram quantificados por Western Blotting. Os dados foram expressos como média±EPM. As comparações entre os grupos C e B foram feitas por teste t de Student para dados independentes, adotando p<0,05. A massa corporal do grupo B foi maior que o grupo C a partir da segunda semana de tratamento (p<0,05). A ingestão alimentar do grupo B foi menor que o grupo C (p<0,01), entretanto constatou-se ingestão calórica maior nos animais alimentados com dieta banha (p<0,05). No grupo B os depósitos de gordura retroperitoneal, epididimal e mesentérico foram maiores (p<0,0001). A glicemia de jejum foi maior no grupo B quando comparado ao grupo C (C:104,7±3,7 mg/dL, B: 119,7±6,3 mg/dL, p=0,021), porém a insulinemia de jejum foi similar entre os grupos (C: 0,8±0,1, B: 1,0±0,2, p=0,158). No primeiro período de 12 h, a injeção de insulina inibiu a ingestão alimentar do grupo C (salina: 19,7±1,4, insulina: 15,3±2,0 g, p=0,038), mas não do grupo B (salina:12,4±1,7, insulina: 11,7±1,6, p=0,390). No segundo período de 12 h, não ocorreu diminuição da ingestão alimentar em ambos os grupos. No período total de 24 h, houve redução da ingestão alimentar no grupo C (salina: 25,8±1,6, insulina: 21,5±2,1, p=0,058), o que não foi observado no grupo B (salina: 15,4±1,8, insulina: 15,2±1,8, p=0,475). O teor hipotalâmico do IR (C: 100,0±3,1, B: 82,1±7,2, p=0,010) e da Akt (C: 100,0±4,9, B: 69,1±6,5, p=0,0008) foi menor no grupo B em relação ao grupo C. As proteínas IRS-1 e IRS-2 foram similares entre os grupos. Observou-se, então, que os animais alimentados com ração enriquecida com ácidos graxos saturados ganharam massa e adiposidade corporal, apresentaram aumento na glicemia e menor sensibilidade ao efeito anorexígeno da insulina. Além disso, a diminuição da expressão de proteínas que fazem parte da cascata de sinalização desse hormônio pode indicar uma possível falha desse sinal. Esses resultados indicam que o consumo dessa dieta pode levar ao desenvolvimento de obesidade.