Prêmio
C.027 | Determinação da dose tóxica retiniana do imunomodulador ácido micofenólico após injeção intravítrea em coelhos: avaliações farmacológica, funcional e morfológica | Autores: | Francisco Max Damico (IPUSP - Instituto de Psicologia da USPFMUSP - Faculdade de Medicina da USP) ; Renata Genaro Aguiar (IPUSP - Instituto de Psicologia da USP) ; Gabriela Lourençon Ioshimoto (IPUSP - Instituto de Psicologia da USP) ; Fábio Gasparin (FMUSP - Faculdade de Medicina da USP) ; Daniela Oliveira Bonci (IPUSP - Instituto de Psicologia da USP) ; Nestor Norio Oiwa (IPUSP - Instituto de Psicologia da USP) ; Armando da Silva Cunha Junior (FAFAR-UFMG - Faculdade de Farmácia da UFMG) ; Maíra Ferreira Carneiro (FAFAR-UFMG - Faculdade de Farmácia da UFMG) ; André Maurício Liber (IPUSP - Instituto de Psicologia da USP) ; Dora Fix Ventura (IPUSP - Instituto de Psicologia da USP) |
Resumo Introdução: Mofetil micofenolato (MMF) é uma potente droga imunomoduladora usada no tratamento de pacientes com inflamação ocular (uveíte) autoimune. No entanto, até 20% dos pacientes apresentam efeitos colaterais e têm o tratamento suspenso. O ácido micofenólico (MPA) é a forma ativa do MMF.
Objetivos: Determinação da dose tóxica de MPA na retina de coelhos através da análise da farmacocinética vítrea, concentração sérica e alterações funcionais e morfológicas após injeção intravítrea.
Métodos: O projeto foi aprovado pela Comissão de Ética para Pesquisa em Animais do ICB-USP e os animais foram tratados de acordo com as Normas para o Uso de Animais em Pesquisa Oftalmológica e da Visão da ARVO. Para o estudo farmacológico, a suspensão de MPA (Roche, Palo Alto, CA) foi injetada no vítreo de 16 coelhos New Zealand machos com 2,0-2,5kg (1mg/0,1ml - 5 vezes a concentração teórica de MPA presente dentro do olho após administração oral de MMF). Como controle, o olho contralateral de cada coelho foi injetado com o veículo usado na preparação da suspensão. Os animais foram sacrificados após 1, 7, 15 e 30 dias e as concentrações de MPA no vítreo e no sangue foram determinadas por cromatografia líquida de alta eficiência. Para a determinação da dose tóxica para a retina do MPA, foram utilizados 24 coelhos e injetados 5µg, 50µg, 200µg, 1mg e 10mg de MPA em 0,1 ml no olho direito de cada animal. O olho esquerdo recebeu o mesmo volume de veículo. A avaliação funcional da retina foi feita por eletrorretinografia (ERG) antes e após a injeção, nos dias 1, 7, 15 e 30, de acordo com o protocolo da ISCEV. Os animais foram sacrificados 30 dias após a injeção intravítrea e a avaliação morfológica foi feita por microscopia de luz (cortes de 7µm corados com hematoxilina-eosina).
Resultados: A meia-vida biológica do MPA no vítreo do coelho é de 5 dias (curva logarítmica, r2=0,993; P=0,0035) e o MPA foi detectável por 29 dias (sensibilidade 1µg/ml). O MPA não foi detectável no sangue em nenhum tempo estudado. A análise dos traçados de ERG mostrou que as doses de 5µg a 1mg de MPA não induziram alteração nas ondas a e b nas condições escotópica e fotópica. Somente a dose de 10mg de MPA induziu diminuição de 21% na amplitude da onda b (P=0,03) e de 11% na latência da onda b (P=0,08) 30 dias após a injeção, sugerindo lesão das células bipolares e células de Müller. A avaliação morfológica demonstrou que 1 e 10mg de MPA resultaram em diminuição da espessura da camada nuclear interna, também sugerindo lesão dos mesmos tipos celulares.
Conclusões: O MPA tem meia-vida biológica de 5 dias e é detectável no vítreo de coelhos até 29 dias após injeção intravítrea. As avaliações funcional e morfológica sugerem que doses de 1mg de MPA já são tóxicas para a retina. A injeção intravítrea de MPA é uma possível forma de tratamento da uveíte autoimune e são necessários estudos experimentais de eficácia antes que essa via de administração de MPA possa ser avaliada em estudos clínicos.
Palavras-chave: ácido micofenólico, eletrofisiologia ocular, meia-vida biológica, retina, toxicidade retiniana |