SBNeC 2010
Resumo:F.156


Poster (Painel)
F.156INFLUÊNCIA DA EXPERIÊNCIA INTRA-UTERINA NO COMPORTAMENTO ALIMENTAR E EM COMPORTAMENTOS NEOFOBICOS EM FILHOTES DE SAGÜIS (Callithrix jacchus).
Autores:Cristiana Engelmann (UFRN - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE) ; Fívia de Araújo Lopes (UFRN - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE)

Resumo

Considerando que o ambiente natural está em constantes mudanças, a capacidade de introduzir alimentos novos na dieta de animais onívoros é essencial para a sobrevivência. Entretanto, a ingestão indiscriminada de itens desconhecidos apresenta diversos riscos à saúde, como o envenenamento e até mesmo a morte. A fim de evitar uma intoxicação, os animais possuem comportamentos neofóbicos perante alimentos não familiares. Sendo assim, para otimizar a eficiência do forrageio e diminuir os riscos é necessário detectar e memorizar sinais que indiquem quais itens são adequados ou não. Dentre estes sinais está a qualidade gustativa, que influencia fortemente a escolha dos alimentos e altera os comportamentos neofóbicos. Em primatas, itens não familiares de gosto doce despertam menor neofobia e são mais facilmente aceitos, sendo essa preferência muitas vezes descrita como inata. Em mamíferos, porém, o desenvolvimento do embrião ocorre no interior do útero materno estabelecendo uma comunicação materno-fetal direta. Dessa forma, podemos supor que a alimentação na gestação deva influenciar diretamente a alimentação da futura prole, podendo inclusive aumentar ou diminuir a neofobia. Logo, poderíamos questionar até que ponto a neofilia aos doces é de fato inata ou se é resultado do comportamento alimentar materno na gravidez, ou seja de uma memória intra-uterina. Nesse estudo verificamos como alguns fatores atuam na resposta neofóbica a doces em filhotes de sagui, Callithrix jacchus, primata nativo do nordeste brasileiro, onívoro e generalista, porém cauteloso na ingestão de itens desconhecidos. Analisamos especificamente a influência da alimentação durante a gestação no comportamento alimentar do filhote. Para tanto oferecemos alimentos desconhecidos de sabor doce nas últimas semanas de gestação, registrando a aceitação desses pela fêmea. Após o desmame esses mesmos alimentos foram oferecidos aos filhotes na ausência dos pais e do grupo. Em seguida, comparamos o comportamento alimentar da fêmea e o do filhote. Os alimentos oferecidos foram cortados em cubos de 1cm3 e oferecidos em pratos próprios para a alimentação, sendo três cubos por animal. As observações foram realizadas pela manhã, entre 7h e 9h, horário correspondente ao período da alimentação no cativeiro, em dias consecutivos, cinco vezes na semana. Cada animal foi, portanto, observado durante 10 dias, sendo as fêmeas nos últimos 10 dias da gestação, período crítico em que ocorrem maiores mudanças corporais e hormonais. Os filhotes foram observados ao completarem 2 meses (início do ingestão de sólidos). Registramos a latência para a ingestão do primeiro item, a quantidade de itens ingeridos e os comportamentos neofóbicos. Foram observados 12 infantes e 7 gestantes. Para analisar os dados utilizamos o teste estatístico de Mann Whitney. A partir das analises, verificamos que comportamentos neofóbicos foram mais freqüentes em filhotes cuja mãe não recebera o item (p=0,01), sugerindo que há influência intra-uterina na preferência alimentar. Alem disso filhotes cuja mãe teve contato com os itens na gestação ingeriram uma maior quantidade (p=0,02) e apresentaram uma latência, tempo para ingerir o primeiro item, menor que os animais cuja mãe não teve contato(p=0,01). Esses resultados sugerem que há influência da alimentação da gestante na preferência alimentar de sua futura prole e que comportamentos como a baixa neofobia a alimentos doces podem não ser inatos e sim ter origem intra-uterina.


Palavras-chave:  COMPORTAMENTO ALIMENTAR, NEOFOBIA, MEMÓRIA NO AMBIENTE UTERINO, EXPERIENCIA INTRA-UTERINA