SBNeC 2010
Resumo:F.019


Prêmio
F.019Desenvolvimento humano e plasticidade cerebral: diálogo entre neurociência e psicologia histórico-cultural
Autores:Joana de Jesus de Andrade (USP - FFCLRP - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - FFCLRP)

Resumo

É no espaço das discussões sobre as origens biológica e cultural humana que se insere a discussão aqui proposta. A consideração de duas perspectivas acerca da origem da espécie humana (uma biológica e outra social) coloca em discussão as condições que sustentam essas duas instâncias do desenvolvimento humano e aponta para a necessidade, cada vez mais acentuada, de que os estudos interdisciplinares sejam pressupostos para reflexões teóricas mais complexas e elaboradas. Nesse sentido, ao propor um estudo preliminar acerca de dois temas em duas áreas de conhecimento, buscamos reflexões conceituais que permitissem a ampliação de enfoques a respeito do desenvolvimento humano. Por conceber as interações sociais como condições primordiais do desenvolvimento e por reconhecer a importância dos estudos em neurociências para maior compreensão do tema, buscou-se neste trabalho de revisão bibliográfica, investigar as relações entre aspectos biológicos e psicológicos do desenvolvimento humano. Constituíram-se objetivos específicos: o estudo dos conceitos de plasticidade cerebral e de desenvolvimento humano a partir de duas áreas do conhecimento: neurociências e psicologia Histórico-Cultural. De acordo com os trabalhos de Luria e Vigotski sobre a organização do cérebro em sistemas de unidades funcionais, a áreas mais complexas do cérebro (em termos de comando mental e psicológico – as zonas terciárias) exercem um controle sobre as zonas primárias e secundárias. Luria reconhece que essa constatação foi feita por Vigotski quando este pesquisava as diferenças no funcionamento do cérebro de acordo com a proposta do sistema funcional complexo. O autor conclui que no adulto o controle das ações ocorre de modo contrário ao que ocorre na infância. Vigotski afirmava que, durante a ontogênese humana, as mudanças que ocorrem na estrutura dos processos mentais superiores produzem, também, importantes mudanças na sua inter-relação, ou seja, na ‘organização interfuncional’ entre as áreas cerebrais. Desse modo, no início do desenvolvimento da criança a atividade mental complexa repousa sobre “uma base mais elementar e depende de uma função ‘basal’, em estágios subseqüentes ela não apenas adquire uma estrutura mais complexa, mas também começa a ser desempenhada com a participação estreita de formas de atividade estruturalmente superiores (Luria, 1981, p. 17).O estudo da plasticidade cerebral em publicações da área de neurociências e dos pressupostos da psicologia Histórico-Cultural (Luria, Vigotski) possibilitou a emergência de questões a respeito de possíveis correlações entre esses dois temas. Principalmente questões relativas às possíveis problematizações conceituais decorrentes da utilização dos pressupostos da psicologia Histórico-Cultural nas investigações sobre o cérebro e o desenvolvimento biológico humano. Nesse processo torna-se uma questão interessante pensar em como as atividades circunscritas ao domínio orgânico vão aos poucos sustentando e sendo sustentadas por formas sociais de atividade. Discutir e entender como se estabelecem os fundamentos psicológicos que sustentam concepções neurocientíficas acerca do desenvolvimento humano é fundamental, principalmente, quando as produções da área refletem palavras de ordem, modos de compreensão e começam a instituir paradigmas no campo educacional.


Palavras-chave:  desenvolvimento humano, plasticidade cerebral, psicologia histórico-cultural