Resumo

A associação do uso de cigarros de tabaco e de bebidas alcoólicas é bastante frequente entre adolescentes humanos. A despeito desta associação, pouco se sabe sobre a neurobiologia básica da co-exposição no cérebro adolescente. No presente estudo, avaliamos os efeitos da exposição à nicotina (NIC) e/ou ao etanol (ETOH) durante a adolescência (30º a 45º dia de vida pós-natal) no aprendizado/memória visuo-espacial (Labirinto Aquático de Morris – 6 sessões + 1 prova, 3 tentativas/sessão, latência – 2 min). Uma vez que os resultados no Labirinto Aquático de Morris são dependentes de atividade motora, avaliamos a atividade locomotora (Teste de Campo Aberto, 1 sessão de 5 min) e a coordenação (Teste de Locomoção Forçada sobre Cilindro Giratório – ROTAROD, 5 tentativas, 4 a 40 rpm em 2 min) para checar a possibilidade de a performance motora explicar nossos resultados. Além disso, para investigar os efeitos da exposição sobre o sistema glutamatérgico, avaliamos o transporte de aminoácidos excitatórios (AAE) no hipocampo de camundongos através da captação de [3H] D-aspartato (contagem por cintilação líquida). Quatro grupos de camundongos Suíços machos e fêmeas foram testados durante o período de exposição: (1) Exposição concomitante a NIC [solução de nicotina free base (50µg/ml) em sacarina a 2% para beber] e ETOH [solução de etanol (25%, 2g/kg) i.p. injetado em dias alternados] (n=13); (2) exposição a NIC (n=14); (3) exposição a ETOH (n=13); (4) Veículo (VEH) (n=14). ANOVAs univariadas e de repetição seguidas de análises post-hoc foram utilizadas respectivamente para avaliar as medidas bioquímicas e comportamentais. No Labirinto Aquático de Morris, a performance do aprendizado/memória foi sexo-, tratamento- e sessão-dependente (Tratamento x Sexo x Sessão: F (15,225) = 2,0; P<0,05): as fêmeas dos grupos VEH e NIC apresentaram redução significativa da latência para encontrar a plataforma da 1ª (VEH = 103±6 s; NIC = 76±10 s) para a 3ª (VEH = 42±8 s; NIC = 48±6 s) sessão (VEH: 59%, P<0,001; NIC: 36%, P<0,05), mas não apresentaram redução adicional da 4ª (VEH = 39±6 s; NIC = 38±7 s) para a 6ª (VEH = 23±6 s; NIC = 36±7 s) sessão. Quando comparadas aos grupos VEH e NIC, as fêmeas do grupo ETOH apresentaram um atraso na redução da latência, o que ocorreu somente da 4ª (57±11 s) para a 5ª (29±10 s) sessão (50%, P<0,05). Fêmeas NIC+ETOH não apresentaram redução na latência para encontrar a plataforma. Para os machos, a média das latências das seis sessões dos grupos ETOH (50±7 s, P<0,01) e NIC+ETOH (48±4 s, P<0,001) foram maiores que a do grupo VEH (32±2 s). Para o teste de Campo Aberto e ROTAROD, não houve diferenças significativas entre os grupos. Houve uma diminuição significativa de cerca de 66% na captação de [3H] D-aspartato para os grupos NIC (0,48±0,08 pmol/ptn/h; P<0,001), ETOH e NIC+ETOH (0,48±0,11 pmol/ptn/h; P<0,001) quando comparados ao grupo VEH (0,72±0,07 pmol/ptn/h). Nossos resultados mostraram que a exposição ao ETOH leva a déficits no aprendizado/memória em camundongos adolescentes, com efeitos mais proeminentes resultantes da co-administração, mais fortemente apresentados por fêmeas. Paralelamente, ambas as drogas, individualmente ou na co-exposição, alteram os níveis de captação de AAE, o que demonstra que o sistema glutamatérgico de camundongos adolescentes é vulnerável à nicotina e/ou ao etanol.