Resumo

O sistema nervoso central (SNC) possui um sistema protetor eficiente contra agentes patogênicos invasivos composto pelas barreiras hematoliquórica e hematoencefálica. Algumas rotas pelas quais microrganismos atingem o SNC seriam a propagação direta por uma via hematogênica e/ou um suposto sistema de invasão através da infecção de nervos cranianos. A meningite pneumocócica tem como agente etiológico a bactéria Streptoccocus pneumoniae, que coloniza as células do hospedeiro através do escape das células imune, em especial do mecanismo de fagocitose exercido pelos macrófagos. A S. pneumoniae possui centenas de moléculas de superfície, dentre as quais resíduos de açucares como D-manose, que poderiam agir como um importante fator de virulência. O presente trabalho visa estudar a interação da S. pneumoniae com as células de Schwann (CS) buscando caracterizar estas células como possível rota de acesso deste microorganismo ao SNC. Para os nossos experimentos utilizamos uma linhagem de células de Schwann humanas - ST88-14, caracterizadas por imunofenotipagem através de reação com o marcador S-100. Os resultados dos nossos experimentos de interação bactéria–célula hospedeira mostraram que a S. pneumoniae é capaz de infectar as células ST88-14 em altas taxas, sendo esta infecção inibida pelo tratamento com manana (um polímero de manose) em diferentes doses durante ensaios de competição da bactéria pelos sítios de adesão presentes na superfície da célula hospedeira. Estes dados sugerem um possível sistema de invasão dependente do receptor para manose, o qual foi previamente descrito, por nosso grupo, como um receptor funcional expresso na superfície das células ST88-14 e CS de culturas primárias capaz de reconhecer patógenos e ligantes ricos em resíduos de manose. Estes dados são sugestivos de um sistema ligante-receptor empregado pela S. pneumoniae para a invasão de nervos via CS, reforçando a hipótese de uma rota alternativa de acesso da S. pneumoniae ao SNC.