Resumo

Apesar das modalidades sensoriais serem muitas vezes investigadas independentemente, a integração entre elas e a forma como uma sofre influência da outra resulta no que reconhecemos como percepção. Essa percepção obtida é o que a literatura trás como percepção crossmodal, a qual ocorre quando dois ou mais sistemas estão envolvidos na composição de um sistema. O estudo do cérebro de indivíduos cegos oferece oportunidades para investigar as mudanças e as adaptações funcionais das áreas corticais após privação visual e de que maneira se dá a integração de diferentes sistemas sensoriais. Essas mudanças implicam não só o processamento realizado pelos sentidos remanescentes, mas também as funções cognitivas superiores, tais como a linguagem e a memória. Assim, diversos estudos buscam compreender a neurofisiologia da integração sensorial buscando, conseqüentemente, avaliar a neuroplasticidade diante da perda de um desses sistemas. Nesse sentido, entre as principais técnicas utilizadas estão a Imagem por Ressonância Magnética Funcional, a Tomografia Computadorizada, a Estimulação Magnética Transcraniana e a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua. O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento de artigos que utilizaram técnicas de neuroimagem e neuromodulação cerebral com finalidade de investigação da neuroplasticidade e atividade cortical em indivíduos cegos. Método: Foi realizada uma busca de artigos publicados no período de 1995 a 2010 no portal de periódicos da CAPES. Após leitura selecionamos 45 artigos que se enquadravam na busca. Resultados: Os principais achados indicaram que as técnicas de neuromodulação interferem na atividade neuronal facilitando ou bloqueando o processamento de informações em tarefas de discriminação tátil, espacial e em leitura braille em cegos adquiridos, congênitos e com visão normal. Estudos mostraram que a neuromodulação pode bloquear a capacidade da leitura braille em cegos proficientes em braille, assim como, facilitar o julgamento de texturas. Já as técnicas de neuroimagem foram utilizadas para o mapeamento da atividade cerebral durante realização de tarefas não visuais. Estudos sugerem que o processamento tátil normalmente ligado a área somatosensorial secundária passam a recrutar, em sujeitos cegos, estruturas como a área occipital ventral (originalmente envolvida com a discriminação de forma). Também pode ser verificado que os mecanismos de neuroplasticidade são dependentes do tempo de privação visual (experimental ou patológica). Estudos relatam que o córtex occipital está envolvido no processamento de informações não visuais (tátil e auditiva) em cegos, assim como, o córtex occipital está envolvido na discriminação tátil para decisão espacial em indivíduos com visão normal. Estudos mostraram que a privação visual durante cinco dias, em indivíduos com visão normal induz mudanças na excitabilidade cortical do córtex occipital. Conclui-se que as técnicas de neuromodulação e neuroimagem permitem investigar o funcionamento e a reorganização cortical em cegos.