SBNeC 2010
Resumo:E.014


Poster (Painel)
E.014IMPACTO DE EVENTOS TRAUMÁTICOS EM MILITARES BRASILEIROS ENVIADOS AO HAITI: Estudo prospectivo do cortisol salivar.
Autores:Ana Carolina Ferraz Mendonça de Souza (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro) ; Nastassja Lopes Fischer (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro) ; Antônio Duarte (IPCFEX - Instituto de Pesquisa em Capacitação Física do Exército) ; Evandro da Silva Freire Coutinho (ENSP - Escola Nacional de Saúde Pública) ; Ivan Figueira (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro) ; Eliane Volchan (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Resumo

Dentro da gama de respostas fisiológicas incitadas por estímulos estressantes, uma das mais importantes é a liberação de glicocorticóides pelas glândulas adrenais. Situações de estresse crônico envolvendo trauma e risco de vida levam a um achatamento do padrão circadiano da secreção de cortisol, com hipoativação no período da manhã e hiperativação no período da tarde/noite. Além disso, estudos em militares das tropas de paz sugerem que a exposição a eventos traumáticos está diretamente relacionada com o desenvolvimento de transtornos mentais como transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão e ansiedade generalizada. No presente estudo avaliamos 87 militares das tropas de paz pertencentes ao III contingente brasileiro enviado ao Haiti. Nosso objetivo foi avaliar os níveis de cortisol salivar antes e após um período de 6 meses de missão de paz no Haiti, correlacionando-os com sintomas psicopatológicos e o número de eventos traumáticos vividos durante a missão. Um subgrupo dessa amostra (n=33) foi ainda submetido a um estresse psicossocial agudo realizado 4 meses após o retorno da missão. Foi observada uma diminuição significativa dos níveis de cortisol salivar após a missão no Haiti. Ainda, os sintomas de transtornos mentais comuns e o número de diferentes eventos traumáticos intensos vividos durante a missão foram capazes de predizer em 17% a variação nos níveis de cortisol pós-missão coletados pela manhã. Quanto maior o número de eventos traumáticos vividos, e maior a pontuação na escala de transtornos mentais comuns, menores foram os níveis de cortisol pós-missão encontrados. Os resultados também mostraram que os níveis de cortisol pós-missão foram capazes de predizer em 24% a reatividade ao estresse agudo subseqüente, de maneira que quanto menores os níveis de cortisol pós-missão, maior a reatividade ao estresse agudo subseqüente realizado em laboratório. Esses resultados estão de acordo com a literatura, mostrando que a exposição a eventos traumáticos envolvendo risco de vida leva a uma diminuição dos níveis de cortisol pela manhã. Apesar das alterações hormonais encontradas, nenhum dos militares avaliados foi diagnosticado com TEPT. Esses resultados dão suporte ao modelo de carga alostática que propõe alterações fisiológicas sustentadas em resposta a períodos de estresse crônico. Tais alterações estariam relacionadas a um padrão de adaptação do organismo, sem que necessariamente haja o desenvolvimento de doenças. Por último, o estudo mostrou que a resposta hormonal ao estresse crônico é capaz de predizer a reatividade do eixo HPA a um estresse agudo subseqüente. Esse dado indica que a amplitude da resposta a diferentes estressores estaria correlacionada. Mais estudos prospectivos são necessários para que haja um melhor entendimento das características individuais relacionadas a maior susceptibilidade ao estresse.


Palavras-chave:  Cortisol, Estresse, Tropas de paz, TSST