SBNeC 2010
Resumo:E.048


Poster (Painel)
E.048Efeito da suplementação da alimentação com triptofano na estratégia comportamental e no perfil neuroendócrino de juvenis de matrinxã (Brycon amazonicus).
Autores:Carla Patrícia Bejo Wolkers (FMRP-USP - Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP) ; Mônica Serra (IBB - UNESP - Instituto de Biociências de Botucatu - UNESP) ; Elisabeth Criscuolo Urbinati (FCAV - UNESP - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias - UNESP) ; Rullian César Ribeiro (FCAV - UNESP - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias - UNESP) ; Ana Paula Montedor (FCAV - UNESP - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias - UNESP) ; Raphael Escorsim Szawka (ICB - UFMG - Instituto de Ciências Biológicas - UFMG)

Resumo

O comportamento agressivo é um conjunto complexo de comportamentos ofensivos e/ou ameaçadores fundamental na competição por recursos limitados. Ele é finamente regulado por regiões específicas do sistema nervoso central por meio de um complexo sistema neuroendócrino, sendo a serotonina (5-HT) o neurotransmissor chave desta regulação. A 5-HT parece exercer um papel inibitório na agressividade de vertebrados, entretanto, seu mecanismo de ação ainda não foi completamente elucidado. O presente estudo avaliou o efeito do triptofano (TRP), precursor da 5-HT, na agressividade e em neurotransmissores envolvidos na regulação do comportamento agressivo, em juvenis de matrinxã (Brycon amazonicus). Para tanto, 72 peixes foram distribuídos em aquários individuais onde permaneceram por 3 dias recebendo ração comercial e 7 dias recebendo as rações experimentais: Controle (4.7g TRP.kg-1), 2X (9.4g TRP.kg-1) e 4X (18.8g TRP.kg-1). Após esse período, um intruso coespecífico e de tamanho similar foi colocado no aquário, estabelecendo-se uma relação residente-intruso. Os aquários foram filmados por 20 min após o agrupamento (0 h). Em seguida, parte dos animais residentes teve o encéfalo amostrado para as análises neuroendócrinas na região hipotalâmica (5-HT e seu principal metabólito (5-HIAA), dopamina (DA) e seu principal metabólito (DOPAC) e noradrenalina (NA)). Os demais animais permaneceram agrupados, sendo filmados novamente 3 e 6 horas após o agrupamento. Foram avaliados os comportamentos de agressão direta (mordida corporal e na cabeça, colisão e perseguição) e de ameaça (ameaça de mordida, acompanhamento, vigia, ronda, arrasto e ciranda), e a latência para cada um dos ataques. Os dados foram analisados em um modelo linear misto, as médias comparadas pelo teste de Fisher (P<0,05) e as correlações realizadas pelo coeficiente de correlação de Spearman. A suplementação da alimentação com TRP reduziu a agressividade dos peixes de maneira seletiva no início da luta, promovendo diminuição nos comportamentos de agressão direta e aumento nos comportamento de ameaça. Além disso, houve um aumento na latência para a realização da primeira mordida corporal, colisão, perseguição e ameaça de mordida. A diminuição na agressividade induzida pelo TRP não foi acompanhada por alterações na atividade serotoninérgica (5-HIAA/5-HT) e nos níveis de 5-HT, 5-HIAA, NA, DA e DOPAC no hipotálamo dos animais. Entretanto, foi observado que o aumento dos níveis de 5-HT pós-luta está correlacionado com a diminuição no número de tentativas de mordidas e com o aumento da latência para a primeira mordida, e o aumento nos níveis de 5-HIAA está correlacionado com o aumento no tempo de vigia. Além disso, a ativação dopaminérgica pós-luta foi menos pronunciada em animais alimentados com ração suplementada com TRP. As alterações comportamentais desencadeadas pelo TRP não se estenderam por toda luta, sendo observado um aumento nas variáveis de agressão direta após 3 e 6 h, de maneira semelhante ao grupo controle. Os resultados obtidos no presente estudo demonstram que o TRP desencadeia uma modificação na estratégia comportamental dos peixes, diminuindo a agressão direta e aumentando os comportamentos de ameaça, sendo este efeito restrito apenas às fases iniciais da interação agressiva. Essas alterações comportamentais estão relacionadas tanto com a atividade serotoninérgica quanto com a diminuição da ativação dopaminérgica durante a interação.


Palavras-chave:  Agressividade, Peixe, Serotonina, Triptofano