Resumo

A percepção de cores em marsupiais é um assunto controverso, especialmente no gênero Didelphis (Didelphidae, Didelphimorphia). Enquanto estudos comportamentais diagnosticaram representantes desse grupo como tricromatas e estudos eletrofisiológicos, como monocromatas, pesquisas de genética molecular realizadas recentemente encontraram apenas duas classes de opsinas expressas nos cones de Didelphis sp. O presente estudo avaliou a percepção de cores do gambá do cerrado (Didelphis albiventris) por meio de um paradigma comportamental de aprendizagem discriminativa. Os testes foram realizados em um labirinto de dupla escolha em forma de Y, composto por uma câmara de partida e uma área de decisão com um painel de dupla escolha, no qual os estímulos eram apresentados. Tais estímulos consistiam em papéis de Munsell, apresentados com variação aleatória de brilho, de forma a assegurar que a escolha era baseada apenas na matiz do estímulo. O teste binomial foi usado para construir o limite de confiança de 95% baseado no número de tentativas da sessão de testes comportamentais. Todos os animais foram capazes de discriminar estímulos considerados de fácil discriminação para dicromatas e tricromatas (ex. azuis vs. laranjas). Contudo, falharam na tarefa de discriminar pares de estímulos considerados de fácil discriminação apenas para tricromatas (ex. verdes vs. laranjas). Os sujeitos também não obtiveram sucesso na distinção de uma cor contra ela mesma (ex. laranjas vs. laranjas), demonstrando que a discriminação era baseada apenas em pistas visuais. Nossos resultados corroboram, assim, predições recentes baseadas em genética molecular, sugerindo que o gênero Didelphis é rotineiramente dicromata.