Resumo

Objetivo: A presença de álcool no sangue promove alterações neurais e ópticas no sistema visual. O objetivo desta pesquisa foi avaliar os efeitos da ingestão moderada de álcool na percepção visual da forma, utilizando a sensibilidade ao contraste (SC). Para isso, caracterizamos a SC para estímulos visuais elementares de frequências espaciais em coordenadas cartesianas, grades senoidais acromáticas e estáticas de 0,5; 1; 3; 4 e 8 cpg (ciclo por grau de ângulo visual) em adultos sem (Condição Controle, CC) e após a ingestão moderada de álcool, 0,8 % BAC (Blood Alcohol Concentration) ( Condição Experimental, CE). Método: Participaram dos experimentos seis voluntários (21-30 anos) com acuidade visual normal ou corrigida. A participação foi voluntária e mediante a assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido. Todos participaram das duas condições, com ingestão e sem ingestão de álcool. A ordem em que cada voluntário passou por cada uma das duas condições foi controlada pela técnica de contrabalanceamento. A quantidade de bebida alcoólica ingerida foi calculada individualmente em função do gênero, idade, peso, altura e quantidade de água corporal, a partir de adaptações das fórmulas de Brick (Alcohol Clin Exp Res.1276:8, 2006). A administração do álcool foi realizada sob a forma de Vodka “Stolichinaya” com concentração de 40% diluída em suco de maracujá, na proporção de 1/3. Na condição placebo, a vodka foi substituída por suco de limão. Um etilômetro (BFD-50) foi utilizado para estimar o teor de álcool no sangue. A sessão experimental foi iniciada quando a concentração de álcool alcançou a marca de 0,8% BAC (limite americano legal). Foi utilizado um delineamento experimental com medidas repetidas e o método psicofísico da escolha forçada entre duas alternativas temporais. As medidas da FSC foram obtidas binocularmente, a uma distância de 300 cm de um monitor de vídeo CRT (Cathodic Ray Tube) Sony G520 de 21 polegadas, com correção gamma. O procedimento para medir a SC consistiu na apresentação sucessiva de pares de estímulos e os voluntários foram orientados a escolher sempre dentre eles qual continha a frequência teste. O outro estímulo neutro foi sempre um padrão homogêneo com a luminância média. Resultados: A SC dos voluntários na CC foi da ordem de 1, 1,2 e 1,5 mais sensível nas frequências espaciais de 0,5, 1 e 3 cpg respectivamente. Por outro lado, os voluntários na CE foram mais sensíveis da ordem de 1,3 na frequência espacial de 4 cpg. A análise de variância para medidas repetidas (ANOVA) mostrou efeito significativo entre sujeitos [F5, 114 = 28,926 (p < 0,001)]; efeito de interação frequência*sujeitos [F25, 570 = 11,641 ( p < 0,001)]; efeito de interação condição*sujeitos [F5, 114 = 14,190 (p < 0,001)] e efeito de interação de frequência*sujeito*condição[F25, 570 = 15,580 (p < 0,001)]. As análises com teste post hoc Newman- Keuls mostraram diferenças significantes entre a CC e a CE em todas as frequências (p < 0,001). Entretanto, as alterações na SC não foram homogêneas entre sujeitos (p.ex. enquanto um dos voluntários sofreu alterações em todas as frequências espaciais, dois dos seis voluntários tiveram alterações apenas nas freqüências 1,3 e 8 cpg). Conclusões: Estes resultados preliminares indicam que a ingestão moderada de álcool altera a SC de forma heterogênea e que condições idiossincráticas dos sujeitos são relevantes nas alterações observadas no sistema visual sob o efeito do álcool.