SBNeC 2010
Resumo:J.016


Prêmio
J.016ALTERAÇÔES SEROTONÉRGICAS CENTRAIS E COMPORTAMENTAIS FRENTE A UM EPISODIO DE DEFICIÊNCIA GRAVE DE TIAMINA
Autores:Fábio Antônio Borges Vigil (LANEC - Laboratório de Neurociência Comportamental e Molecular-UFMG) ; Livia Freire Ferreira (LANEC - Laboratório de Neurociência Comportamental e Molecular-UFMG) ; Ieda Oliveira E Silva (LANEC - Laboratório de Neurociência Comportamental e Molecular-UFMG) ; Frederico Guilherme Graeff (FMRP USP - Fac. de Medicina-USP-Ribeirão Preto) ; Silvia Castanheira E Pereira (LANEC - Laboratório de Neurociência Comportamental e Molecular-UFMG) ; Ângela Maria Ribeiro (LANEC - Laboratório de Neurociência Comportamental e Molecular-UFMG)

Resumo

A Encefalopatia de Wernicke, distúrbio causado pela deficiência de tiamina (DT), envolve disfunções e/ou lesões em diferentes regiões do encéfalo. Em estudos prévios, utilizando modelo experimental, observamos que a DT causa prejuízos na aprendizagem de tarefas espaciais realizadas no labirinto aquático de Morris (LAM). Outros autores verificaram que a DT induz alterações em aspectos emocionais. Sabendo que o LAM é uma tarefa que envolve um estímulo aversivo e que o sistema serotonérgico está envolvido tanto em aspectos cognitivos quanto emocionais, os objetivos do presente estudo foram: (i) verificar o papel do estado emocional, níveis de ansiedade e medo, nas alterações cognitivas espaciais, causadas pela DT e (ii) avaliar as correlações entre aspectos comportamentais e concentrações de serotonina (5-HT) e do ácido 5-hidroxi-indolacético (5-HIAA) no tálamo, hipocampo, amídala, núcleo dorsal da rafe (NDR), substância cinzenta periaqueductal (SCP) e córtex orbitofrontal. Ratos Wistar (n=54), adultos, foram divididos em dois grupos: Controle (C, n=26) e Deficiente de Tiamina (D, n=28). Todos os animais foram submetidos a testes no LAM para avaliar parâmetros cognitivos espaciais. Posteriormente, 22 desses animais (10 do grupo C e 12 do D) foram submetidos a teste no labirinto em T-elevado (LTE) para avaliar respostas a estímulos aversivos. As concentrações de 5-HT e 5-HIAA foram determinadas por cromatografia (HPLC); e as taxas de renovação ([5-HIAA]/[5HT]) calculadas. Observamos um aumento significativo na latência de fuga (p=0,04) no LTE nos animais do grupo D. Não foi observada nenhuma diferença significativa nas latências de esquiva. Os animais do grupo D foram capazes de aprender a tarefa espacial, no entanto, a velocidade de aquisição foi menor (F= 541 p=0,02) quando comparado aos controles. Não foram verificados déficits em aspectos da memória (probe trial) ou motivação (teste com dica proximal). Os animais deficientes apresentaram um aumento significativo na [5-HIAA] no tálamo (p=0,006) e amídala (p=0,03). Foi encontrado também um aumento na taxa de renovação da 5-HT talâmica (p=0,01) após a DT. Análises de regressão linear mostraram correlações inversas entre a [5-HIAA] na SCP ou na amídala e o desempenho na 4º sessão do LAM (R=0,28; p=0,04) e a latência de esquiva no LTE (R=0,75; p=0,001), respectivamente. Correlação linear significativa foi também observada entre a latência na 4º sessão do LAM e a latência de esquiva no LTE (R=0,51; p=0,04). Observamos um acúmulo de 5-HIAA em regiões especificas do encéfalo dos animais DT. Entre as hipóteses possíveis para explicar esse dado, sugerimos como as mais prováveis: uma diminuição no clearance do 5-HIAA e/ou uma diminuição na concentração da “serotonin binding protein”, aumentando a exposição da 5-HT à ação da monoamino-oxidase. Os dados sugerem que a tiamina tem um papel no funcionamento do sistema serotoninérgico em regiões especificas do encéfalo, participando de mecanismos biológicos envolvidos em aspectos do comportamento emocional e aprendizagem espacial. Levantamos a hipótese de que os déficits de aprendizagem espacial apresentados pelos ratos deficientes podem estar relacionados à baixa reatividade que esses animais apresentam frente a presença de estímulos aversivos.


Palavras-chave:  Tiamina, Serotonina, Talamo, Amigdala, Cognição