Resumo

O comportamento ofensivo é um fenômeno complexo que envolve variadas funções e diferentes causas, que de forma geral compreende padrões comportamentais de ajuste a situações de conflito entre indivíduos da mesma espécie ou de espécies diferentes. Os “displays” comportamentais dos gymnotiformes dependem de elementos físicos/motores como também de informações codificadas pela descarga do orgão elétrico. Esta é altamente variável, cada espécie possui um repertório com características temporais (intervalo entre pulsos) e espectrais (forma de onda) únicas, devido à especialização de mecanismos de regulação e modulação, que a torna numa poderosa ferramenta de comunicação. O comportamento elétrico e motor de uma nova espécie não descrita do gênero Microsternachus, foi simultaneamente registrado de forma a determinar características eletrofisiológicas e comportamentais relevantes para o processo de reconhecimento específico. Este estudo consistiu na gravação da eletrocomunicação (aúdio) e comportamento motor (vídeo), em simultâneo e de forma contínua por 12h (17h-05h) de seis indivíduos, quatro fêmeas e dois machos, submetidos a interações sociais entre eles e com indivíduos de três espécies filogeneticamente aparentadas: um indivíduo do mesmo gênero (Microsternarchus cf. bilineatus); um indivíduo do gênero próximo (Racenisia fimbripinna) e um indivíduo de um gênero mais distante (Hypopygus minimus). Desde modo, foram analisadas interações sociais de trinta e seis pares de peixes elétricos, que resultou em quinze pares de interação social intraespecífica (seis pares fêmea/fêmea, oito pares fêmea/macho e um par macho/macho) e dezoito pares interespecíficos (seis pares macho/outro e doze pares fêmea/outro). Métodos comparativos foram utilizados para a obtenção dos dados e a análise dos resultados se concentrou nos seguintes tópicos: repertório comportamental motor e elétrico apresentado pela espécie; alterações na frequência de ocorrência das componentes comportamentais encontradas em relação aos diferentes tipos de exposição social; e associação de “displays” motores a modulações da descarga do orgão elétrico. Os resultados mostraram similaridade no repertório agressivo em relação ao apresentado por outras espécies de gymnotiformes, apesar da identificação de componentes comportamentais exclusivas da espécie alvo e de maiores indíces de interação agonística nos pares fêmea/fêmea. Foram também identificadas diferenças no comportamento agressivo da nova espécie em relação à socialização com indivíduos de espécies diferentes, que podem estar relacionadas com a distância filogenética entre as espécies. A agressividade apresentada foi menor quando ocorreu socialização com o indivíduo da espécie mais afastada filogeneticamente, no caso Hypopygus minimus.