SBNeC 2010
Resumo:I.001


Prêmio
I.001Cerebralidade e Racionalidade: um problema em neurofilosofia
Autores:Márcia Regina Viana (UENF - Universidade Estadual do Norte Fluminense)

Resumo

Com os estudos de neurociência surge uma discussão cuja temática é a dicotomia sugerida pelos conceitos cerebralidade e racionalidade. O primeiro conceito – cerebralidade - sugere a contemplação do indivíduo como detentor de um corpo coordenado por um cérebro, Incluindo o processo de escolha constitutivo da noção de livre arbítrio. O segundo conceito, o de racionalidade, cuja amplitude abarca a idéia aristotélica do homem como animal racional, contempla o indivíduo como um sujeito soberano em sua existência. Tal soberania é garantida pela sua razão e tal fato foi consagrado pela tradição filosófica, inclusive pela linha existencialista desta tradição, que pretendemos explorar neste trabalho.Na idéia de sujeito em situação, soberano de sua vontade cuja soberania é concedida pela racionalidade subjetiva, o indivíduo é visto como que estando além do que ocorre em seu corpo. As atividades fisicoquímicas de seu corpo parecem realidades paralelas ao fato de sua existência como animal racional.O cerne desta recente discussão reside no fato de que, para a neurociência, o fundamento da existência é o corpo enquanto conjunto de reações fisicoquímicas. Estas reações poderiam ser interpretadas como os movimentos de uma natureza constituinte do ser. O que acontece no corpo do indivíduo são fatos representativos de leis naturais às quais este corpo está submetido. São processos naturais de manutenção da vida, em cujo escopo está incluído, em algumas vertentes desta teoria, elementos constitutivos da escolha e do livre arbítrio.Experimentos realizados com o intuito de pesquisar a atividade cerebral relacionada ao exercício da vontade, como o de Libet (1985), têm envidado esforços para mostrar que a razão não está sozinha, e por isso não é soberana, no que diz respeito à agência das decisões. Assim, o sujeito não seria totalmente detentor do controle de fatos naturais fundadores do processo de escolha e livre arbítrio.Através destas reflexões, seria coerente se pensar na hipótese de o sujeito não ser tão soberano assim de sua liberdade, já que se encontra submetido aos processos naturais de seu cérebro, os quais podem determinar de algum modo suas escolhas. Algumas ações consideradas de livre arbítrio poderiam se tratar, na verdade, de reação a uma causa natural.Conforme afirma Gomes em seu estudo intitulado Consciência e livre arbítrio, “Vemos nosso corpo como pertencente ao mundo, mas temos dificuldade em ver nosso próprio eu como pertencendo também ao mundo natural.(...) tendemos a ver nossas decisões como independentes de causas. (...)Tudo o que falta – e não é pouco – é incluir a nós mesmos, enquanto agentes capazes de escolhas e decisões, no mundo natural” (GOMES, Gilberto. Consciência e livre arbítrio. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 2., 2007, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2007. 1 CD-R).Com base nessa discussão, projeta-se a seguinte questão: não seria o ser constituído também de cerebralidade, de sua (contra)parte natural, além da já consagrada razão que lhe confere soberania subjetiva e que tal origem natural, não comporia também sua agência de escolhas e decisões?Talvez não seja adequado à legítima atitude filosófica não incluir em suas reflexões os resultados oferecidos pela neurociência. Entretanto, também não parece adequado e tampouco legítimo apenas considerarmos tais estudos.


Palavras-chave:  subjetividade, racionalidade, liberdade, cérebro, lívre-arbítrio