SBNeC 2010
Resumo:I.004


Oral / Poster
I.004Algumas objeções à hipótese dos marcadores somáticos: contribuições para o debate acerca dos processos de decision-making
Autores:Leonardo Ferreira Almada (UNESP - Univ. Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho)

Resumo

Em minha pesquisa, tenho me deparado com a hipótese dos marcadores somáticos, que têm recebido intensas e constantes objeções por parte de filósofos e de neurocientistas que não estão dispostos a aceitar a tese de que as emoções constituem uma coleção de mudanças ou sinais corporais em respostas à imagem mental de um objeto ou de um evento. Pretendo mapear as principais objeções e alternativas à hipótese dos marcadores somáticos de Damasio para que, subsequentemente, eu possa propor uma compreensão particular dos processos de decision-making. Em princípio, minha análise dos processos de decision-making concorda com Bennett e Hacker quanto à ideia de que a hipótese dos marcadores somáticos está aberta às seguintes objeções: (i) Damasio estabelece uma confusão conceitual quando estabelece que uma emoção é um ajuntamento de mudanças somáticas causadas pela imagem mental de um objeto ou de um evento; (ii) é contra-intuitivo supor que exista diferenças substanciais entre ter uma emoção e sentir uma emoção, assim como não há diferença entre ter uma dor e sentir uma dor; (iii) Damasio, assim como James, em What is na emotion?, falha em estabelecer uma distinção entre as causas de uma emoção e seus objetos; (iv) se aceitássemos a hipótese dos marcadores somáticos em toda sua plenitude, seríamos levados a aceitar a frágil hipótese de que o aprendizado do significado das palavras que se referem às emoções e a aprendizagem do modo de usá-las consistiria meramente em aprender os nomes dos complexos que caracterizam as mudanças corporais com causas específicas. Minha crença é a de que estas possíveis fragilidades da hipótese dos marcadores somáticos podem levar seus adeptos ao erro de desconsiderar a razoabilidade ou não de inúmeras respostas emocionais que estão na base dos processos de decision-making. No âmbito das objeções que pretendo levar em consideração, é preciso ainda destacar com clareza biológica, conceitual e argumentativa que as reações corporais não são guias confiáveis para a ação. Nesse sentido, proponho defender que as fragilidades da hipótese dos marcadores somáticos estão claramente associadas à capacidade humana para um uso efetivo da razão prática e para os propósitos de tomar decisões a partir das bases confiáveis que temos para sentir emoções.


Palavras-chave:  marcadores somáticos, emoção e cognição, decision-making, signos corporais, funções corticais